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Curso de Ensino a Distância

A interlocução entre o pedagógico e o técnico do projeto SAPIENS concretizou-se através da efetivação de uma situação teste para extrair e caracterizar os requisitos técnicos necessários para um ambiente de apoio à proposta pedagógica, construída a partir dos referenciais teóricos que envolvem princípios de ensino colaborativo em rede, delineados na Seção 3.1.

No intuito de construir tal situação teste, a equipe de educação propôs um curso de educação a distância. O objetivo do curso proposto é testar a atividade colaborativa de pessoas envolvidas em um curso de Ensino a Distância e as condições tecnológicas que maximizem a mesma. Para atingir o objetivo estabelecido, o curso consiste em uma tarefa que exige estratégias colaborativas e que maximiza essa colaboração através da criação de um ambiente técnico adequado.

O curso foi concebido tendo em vista propiciar a seus alunos ``virtuais'' situações de vivência concreta, atreladas a reflexões teóricas, de forma a permitir o aprofundamento de seus conhecimentos em quatro grandes áreas: ensino a distância, metodologia de ensino, retórica digital e ensino colaborativo na Web. Cada uma destas áreas constitui um módulo que explora o conteúdo descrito abaixo:

Módulo 1 -- Educação a Distância:
retrospectiva histórica; distinção entre ensino presencial e ensino a distância; educação a distância em diferentes meios tecnológicos; interação pedagógica propiciada pelos diferentes meios.

Módulo 2 -- Retórica Digital:
a constituição híbrida da linguagem na Web; a constituição de novos gêneros; o conceito de hipertexto e questões relativas à sua produção e recepção.

Módulo 3 -- Concepções Epistemológicas sobre o Conhecimento:
retrospectiva histórica das grandes linhas epistemológicas e concepções de mundo e de homem; implicações dos diferentes conceitos para a prática educacional.

Módulo 4 -- Aquisição de Conhecimento Mediada pela Web:
vivência prática da construção de conhecimento dentro de um contexto colaborativo; reflexão teórica sobre os princípios norteadores do ensino colaborativo e suas possibilidades pedagógicas

Considerando que a plataforma CALM (Seção 2.2.1) vem sendo testada em diferentes situações de ensino, a equipe pedagógica optou por testar, em um primeiro momento, a implementação de apenas um dos módulos do curso proposto. Dado que o grande desafio colocado para o ensino em rede reside na exploração das novas possibilidades de interação que este meio propicia, optou-se por centrar a situação teste no Módulo 4 e, dentro deste módulo, no item da vivência prática, uma vez que este item foi programado justamente visando colocar os alunos frente a uma experiência concreta de construção colaborativa de conhecimento, via rede. Sendo esta a situação teste eleita, no item que segue, sua proposta é descrita em maiores detalhes.

Ambiente de Aquisição de Conhecimento

Partindo do pressuposto que o conhecimento é uma produção social e que o acesso do sujeito a ele implica a mediação de outro(s) sujeito(s), conclui-se que o processo de aprender algo novo envolve, necessariamente, a participação, direta ou indireta, do outro. Pode-se afirmar, então, que o processo de aprender -- ou de adquirir um novo conhecimento -- supõe o processo correspondente de ``ensinar'' -- ou de compartilhar o que já é conhecido pelo(s) outro(s). Dessa forma, parece razoável pensar que um processo eficiente de educação (qualquer que seja a modalidade) -- ou seja de criação do ``ambiente'' que reúna as condições necessárias para que alguém possa aceder ao conhecimento -- deve fundar-se em alguma forma concreta de colaboração ou mediação do(s) outro(s). Recorrer a meios tecnológicos que maximizem as possibilidades de colaboração entre as pessoas envolvidas num processo de aquisição de conhecimento constitui uma aplicação concreta do pressuposto da natureza social do conhecimento. A criação de ambientes colaborativos na educação à distância pode assim ser considerada um importante fator de sucesso no processo de aquisição de conhecimento.

O Módulo 4 foi concebido tendo como meta a criação de situações de negociação e colaboração. A orientação proposta foi a construção de conhecimento de forma indutiva, ou seja, o aluno, em um primeiro momento, vivencia a experiência de colaboração via rede para posteriormente refletir sobre ela. Para tal, as situações de colaboração e negociação, embora exigidas em tarefas específicas do módulo, estão, em todo processo, abertas ao aluno. Cabe a ele a decisão sobre quando e como utilizar os recursos de apoio de colaboração e negociação oferecidos.

O cenário que demanda negociações foi construído a partir de tarefas específicas que podem ser executadas pelos professores/alunos do curso e têm como meta a produção de um material de apoio para o ensino mediado por computador a ser utilizado no Ensino Médio. As tarefas envolvidas têm características de um problema complexo que teorias, como a proposta por Spiro et al. (1988), indicam demandar a consideração de variáveis múltiplas.

Especificando o problema teste, alunos envolvidos na construção de uma proposta de material de apoio para o Ensino Médio precisam necessariamente ponderar sobre três aspectos fundamentais: conteúdo a ser ensinado, orientação pedagógica e questões técnicas envolvidas. Partindo do pressuposto teórico de que colaboração depende de troca e negociação, e que tais trocas pressupõem, por sua vez, um capital de conhecimento específico, os alunos são orientados, em um primeiro momento, para um estudo mais aprofundado de cada um dos aspectos fundamentais objetivando a formação de ``especialistas'' que podem contribuir na troca e construção coletiva.

A avaliação do teste piloto para o curso de Educação a Distância dar-se-á pela observação dos seguintes quesitos:

  1. capacidade do grupo estabelecer negociações intra e inter-grupos com vistas ao processo de seleção de objetivos, conteúdos e a construção de uma identidade grupal;

  2. demonstração de capacidade individual para acessar e disponibilizar dados que possibilitem a construção de soluções para o problema;

  3. competência demonstrada na formulação de ``perguntas pedagógicas'' que sinalizem a capacidade de problematização da situação, ``alargando'' a consciência grupal frente à complexidade da tarefa;

  4. freqüência de vezes em que individual ou coletivamente se ``busca'' a colaboração para o debate interdisciplinar com vistas à aquisição de conhecimento.

Na seqüência, apresenta-se a descrição do curso da situação teste sob a perspectiva do aluno.

Vivenciando o colaborativo

O curso de Educação a Distância tem por objetivo viver uma experiência colaborativa mediada por computador através da elaboração de um plano de atividade didática para professores de Ensino Médio, da rede pública. Durante a atividade prática, a ser desenvolvida inteiramente via Internet (mais especificamente apenas através de fóruns e anotações em hiperdocumentos), várias situações de negociação e colaboração são criadas. O plano de atividade didática a ser produzido deve fazer uso do computador em sala de aula.

O curso é desenvolvido em cinco momentos. Para os três primeiros momentos os alunos são divididos em três grupos:

Grupo 1:
responsável pelo conteúdo;
Grupo 2:
responsável pelos parâmetros pedagógicos;
Grupo 3:
responsável pelos aspectos técnicos.

Ao se inscrever no curso, o aluno deve indicar a sua ordem de preferência pelos grupos a serem inicialmente organizados. Estão disponíveis a todos os alunos, para consulta, os dados da ficha de inscrição por eles preenchidas.

No primeiro momento, cada grupo deve adquirir competências específicas e, para tal, serão atribuídas e executadas as suas tarefas, conforme descrito na seqüência.

O Grupo 1 determina, no conjunto programático do conteúdo do Ensino Médio (Parâmetros Curriculares Nacionais -- Ensino Médio), a área a ser trabalhada que, de acordo com a nomenclatura do Ministério da Educação (MEC), são as seguintes: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias; e Ciências Humanas e suas Tecnologias. Na área escolhida, o grupo deve definir um tópico e justificar sua relevância no conjunto, bem como sua pertinência e adequação a um tratamento tecnológico, via computador. A questão fundamental a ser abordada por esse grupo é ``o que vai ser ensinado.''

O Grupo 2 deve definir princípios pedagógicos norteadores para o ensino mediado por computador, que sintetizem o que, necessariamente, deve ser contemplado do ponto de vista pedagógico. Sua questão fundamental é ``como vai se dar o ensino e como o meio deve ser explorado e utilizado eficientemente do ponto de vista pedagógico.''

O Grupo 3 deve realizar um levantamento das condições de contorno em termos de infra-estrutura, limites e possibilidades, bem como custos e preparar a proposta de um ambiente tecnológico que possa ser utilizado na infra-estrutura computacional existente nas escolas públicas em conformidade com as limitações orçamentárias que elas enfrentam. Também deve ser considerado o suporte tecnológico a ser provido, para que o pacote proposto seja utilizado com sucesso em tais escolas. A questão fundamental para esse grupo é ``que recursos computacionais podem ser utilizados e que apoio tecnológico (remoto ou não) deve ser provido, dada a realidade das escolas da rede pública.''

As dúvidas que o grupo tiver em relação aos demais temas devem ser esclarecidas através de consulta aos grupos ``especializados'' naqueles temas.

No segundo momento, cada grupo deve produzir um hipertexto em que fiquem registrados as conclusões do mesmo sobre o tema que lhe foi destinado. No mesmo hipertexto são disponibilizadas referências (links) para informações complementares sobre o assunto, sejam elas pertencentes aos textos de apoio do grupo, a outros textos que o grupo possa ter acessado ou reflexões complementares por ele elaboradas.

A construção do mencionado hipertexto, juntamente com o estudo preliminar, têm um tempo limite de três semanas para serem concluídos. Neste espaço de tempo as diferentes versões do texto em elaboração devem estar disponíveis ao grupo e abertas aos seus membros para comentários, reflexões, propostas de redações alternativas e sugestões de adições, entre outros.

Um membro do grupo deve assumir o papel de redator do hipertexto, conduzindo a consolidação das versões até a elaboração da versão final.

No terceiro momento, que se estende pelo período de uma semana, são socializadas, entre todos os alunos, através da última versão do hiperdocumento, produzido pelo grupo no momento anterior, as informações levantadas e as recomendações sugeridas, ou seja:

Durante o terceiro momento deve ser elaborada, por parte de todos os alunos, uma lista de referências consideradas básicas para a produção de planos de aula para o Ensino Médio nas escolas públicas calcadas em tecnologias de informação e comunicação.

Para o quarto e o quinto momentos os alunos são redistribuídos em dois novos grupos (Grupo A e Grupo B). Cada novo grupo consiste em um corte longitudinal dos grupos anteriores e, portanto, é composto por, aproximadamente, metade de cada um dos três grupos anteriores (Figura 2.3). Assim, cada novo grupo contém pessoas informadas sobre as questões fundamentais levantadas e socializadas nos três primeiros momentos.

Figura: Corte longitudinal para formação de novos grupos.
\includegraphics[scale=.65]{grupos.eps}

No quarto momento, os grupos A e B atuam em separado e cada um escolhe uma das sugestões de temas, detalhará um plano de atividade didática para o tema escolhido, planeja tarefas a serem desenvolvidas pelos alunos da rede pública e discute alternativas de implementação exeqüíveis e em conformidade com as restrições levantadas. O resultado do quarto momento a ser produzido, ao longo de um período de três semanas, é o projeto detalhado de um plano de curso e recomendações para a sua implementação e introdução em escolas da rede pública.

No quinto momento, os grupos A e B trocam os projetos elaborados entre si para uma avaliação das propostas com relação à sua qualidade em termos pedagógicos e tecnológicos bem como à sua exeqüibilidade. A proposta produzida pela outro grupo deve ser avaliada pela:

  1. consistência teórica do plano de atividade didática apresentado: objetivos (alcance específico e social); seleção de conteúdos e coerência das práticas avaliativas apresentadas em relação aos objetivos priorizados;

  2. coerência externa da proposta: condições objetivas para a realização da proposta;

  3. apresentação dos recursos tecnológicos necessários à consecução do plano de atividades, tomando por referência os objetivos elencados;

  4. coerência interna do plano de atividades -- organicidade da proposta em termos filosóficos, pedagógicos e tecnológicos;

  5. grau de adesão aos princípios colaborativos como elemento otimizador do processo de aquisição de conhecimento complexo.

O resultado da avaliação pormenorizada deve ser retornado ao professor responsável pelo curso ao final de uma semana.

Nota importante:

Para simular uma classe geograficamente dispersa em que encontros presenciais entre alunos seriam muito difíceis de serem realizados e onde muito provavelmente os alunos não se conhecem pessoalmente, todas as interações intra e inter-grupos devem se dar exclusivamente via dois mecanismos: anotações em hiperdocumentos sempre que um texto estiver em discussão ou em processo de construção coletiva e via fóruns específicos disponibilizados para discussão de questões complementares. A restrição ao uso a tais mecanismos visa o registro sistemático das interações objeto de avaliação posterior.

A agenda de execução do curso está apresentada na Tabela 2.1.


Tabela: Agenda para execução do curso.
Momento Semana Envolvidos
1 2 3 4 5 6 7
1 X X X Grupos 1, 2 e 3
2 X X X Grupos 1, 2 e 3
3 X Todos os alunos
4 X X X Grupos A e B
5 X Grupos A e B



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Ivan Luiz Marques Ricarte 2001-03-16