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Modelagem de um curso pela abordagem WIS

A plataforma WWW, que originalmente era apenas um instrumento utilizado para estabelecer uma presença online, passou a ser uma plataforma que consegue apoiar todos os aspectos do trabalho organizacional. Como resultado, esforços mais importantes dos profissionais de sistemas de informação estão direcionados para o desenvolvimento de sistemas de informação baseados na tecnologia WWW, denominados ``Sistemas de Informação baseados na WWW'' (ou WISs, abreviação de Web-based Information Systems). Eles combinam navegação em um espaço de informações heterogêneas com operações que consultam ou afetam aquelas informações. Entre outras funções, tais sistemas fornecem apoio ao cliente, possibilitam o comércio eletrônico e a colaboração remota, tudo por meio da WWW.

Há quatro categorias de WISs: sistemas para intranets, que processam informações internas às redes locais; sites WWW, que funcionam como uma estratégia de marketing, levando informações e serviços ao público externo; sistemas de comércio eletrônico, que interagem mais com o consumidor; e sistemas para extranets, um conjunto de sistemas internos e externos que se comunicam para apoiar negócios das empresas (Isakowitz et al., 1998a; Isakowitz et al., 1998b; Schwabe & Rossi, 1998).

Por estarem localizados na WWW, os WISs alcançam um público maior e mais heterogêneo, aumentando o mercado consumidor das empresas. WISs diminuem os custos porque não é necessário instalar outro software nas máquinas dos usuários finais, minimizam gastos com manutenção e suporte técnico, bem como possibilitam um treinamento em larga escala a baixo custo. Além disso, os serviços oferecidos pelos WISs superam limites temporais e espaciais, porque operações e atualizações podem ocorrer a partir de qualquer lugar do mundo, apoiando desse modo bancos de dados institucionais integrados e consistentes. WISs ainda facilitam o trabalho cooperativo e contribuem para a construção de comunidades de conhecimento (Casagrande, 2000).

Como quaisquer sistemas de informação, WISs gerenciam informações por meio de operações de registro, recuperação e controle de dados, visando a otimização desse processo; contudo, WISs requerem novas abordagens de projeto e de desenvolvimento, alcançam potencialmente muito mais pessoas, usam a Internet como plataforma, adotam hipertexto como seu modelo computacional básico e seus usuários geralmente interagem à distância sem nenhum treinamento especial. Tais inovações introduzem desafios administrativos e técnicos, exigindo portanto que as pessoas pensem sobre eles sob um ponto de vista totalmente diferente dos sistemas tradicionais. Além disso, é necessário atualizar regularmente o conteúdo e as ligações; dessa forma, sabendo planejar e projetar, é possível evitar dificuldades na manutenção de documentos gerados por um WIS (Isakowitz et al., 1998b; Balasubramanian & Bashian, 1998).

WISs são também distintos de um conjunto de páginas da WWW, porque WISs apóiam o trabalho de uma organização e geralmente estão bem integrados a outros sistemas de informação não baseados na WWW, como bancos de dados e sistemas de processamento de transações. Enquanto um site WWW é utilizado principalmente como meio para disseminar informação a usuários anônimos com objetivos de marketing e propaganda, um WIS é tipicamente projetado para executar tarefas específicas de negócios, como aquisição de bens e recrutamento, que envolvem interação entre acionistas; por isso, os sites normalmente fornecem uma única visão aos usuários; ao contrário, usuários de WISs têm tarefas e requisitos específicos e freqüentemente necessitam de visões específicas para realizar seu trabalho que é, pela sua própria natureza, mais complexo que o resto da WWW. Devido ao fato dos usuários interagirem muito mais com o sistema do que com simples páginas da WWW, é mais difícil entender os requisitos de WISs, os quais são diferentes dos sites WWW; entretanto, alguns dos principais requisitos genéricos de WIS são: estrutura navegacional projetada para apoiar fluxos de trabalho específicos, modelo estruturado de dados representando relacionamentos entre partes da informação, características que possibilitam aos usuários o processamento interativo de dados de negócios, apoio para estilo distribuído de trabalho colaborativo e integridade referencial rígida de ligações para tarefas indispensáveis (Isakowitz et al., 1998a; Dennis, 1998; Takahashi, 1998).

Pode-se observar que WIS devem funcionar prioritariamente como sistemas de informação e, em segundo lugar, como sites WWW. Além disso, a participação do usuário é tão crítica para o desenvolvimento de sistemas para a WWW como para o desenvolvimento de sistemas tradicionais, diferentemente do desenvolvimento de páginas para a WWW, onde usuários desempenham pequenos papéis. Para o desenvolvimento de WISs é necessário adotar os mesmos princípios disciplinados que para o desenvolvimento de sistemas, as mesmas avaliações inflexíveis de valores em negócios e as mesmas abordagens centradas no usuário (Dennis, 1998).

Um WIS para Educação à Distância

As principais áreas de aplicação dos WISs atualmente são o comércio eletrônico e a educação à distância (EAD). É nesta segunda área que se encontra inserida a construção de um sistema para extranets, caracterizado como um ambiente de apoio à autoria e acesso de material didático via Internet. Vários módulos estão previstos, tais como: apresentação, com apoio a glossários, anotações e auto-avaliação; gerenciamento dos cursos (por exemplo, das notas e aprovações) e dos participantes (aprendizes, instrutores e autores); e autoria, que orientará o autor durante a elaboração do conteúdo do material didático (Leiva et al., 1999).

A WWW pode oferecer vários benefícios para o processo de aprendizagem, tais como: fácil acesso ao conteúdo didático, interação (aprendiz com aprendiz e instrutor com instrutor) e aprendizado em grupo. Ambientes computacionais de aprendizado fornecem os recursos para adequar as características da WWW ao processo de aprendizagem.

Características estáticas de um curso a distância

O processo de modelagem de um sistema deve capturar tanto suas características estáticas como suas características dinâmicas. As características estáticas de um sistema EAD são descritas através de seus principais atributos, apresentados a seguir.

A apresentação de um curso é um documento público que descreve resumidamente o curso.

O atributo autores pode descrever, além do(s) nome(s) do(s) autor(es) do curso, referências a endereços eletrônicos ou a páginas pessoais na WWW.

Pré-requisitos descrevem, através de uma lista, os assuntos que já devem ter sido compreendidos pelo aprendiz, antes que ele se inscreva para o curso, podendo incluir ligações para outros cursos ou textos.

A abordagem pedagógica identifica a linha pedagógica adotada pelo instrutor durante o curso como, por exemplo, construtivismo.

Natureza é uma indicação do tipo do curso como, por exemplo, extensão ou graduação.

O público-alvo determina o perfil do aprendiz para o qual o curso está direcionado, como por exemplo, funcionários de uma determinada empresa.

Outro atributo que, dependendo da forma de oferecimento do curso, poderá estar presente é o número de vagas disponíveis para o próximo oferecimento do curso.

O atributo objetivos especifica os objetivos do curso, que podem ser: gerais, específicos, de ensino e de aprendizagem.

O calendário é um agrupamento dos seguintes itens, que são específicos de um oferecimento do curso: data de início, local e horário, carga horária e data do término.

A bibliografia é o conjunto de referências bibliográficas não eletrônicas para o curso, que podem ser livros ou artigos. Ler textos muito extensos na tela do computador não é do agrado de todos. Livros de qualidade ajudam os aprendizes e podem ser indicados para leitura (Fuks, 2000). As referências bibliográficas podem ser inseridas de forma estática (antes do início do curso) ou dinâmica (durante o curso), sendo solicitadas as seguintes informações: título do artigo ou livro, nome do autor, editora, edição, ano, ISBN, volume, número, cidade.

A webliografia é uma lista de hiperdocumentos da WWW, na forma de suas URLs. Os aprendizes são convidados a passear na WWW a partir de caminhos já visitados pelo instrutor. Também serve para aproveitar no curso outros sites que o docente tenha desenvolvido anteriormente. Ambientes de simulação -- sites que possibilitam a simulação de conceitos discutidos no curso -- podem ser referenciados através deste mecanismo (Fuks, 2000). Assim como as referências bibliográficas, URLs podem ser inseridas antes ou durante o curso.

Finalmente, o curso pode ter um glossário no formato hipermídia, a fim de facilitar a consulta. Os aprendizes podem procurar no glossário palavras-chaves ou palavras parciais.

Na próxima seção, o comportamento dinâmico associado a um curso é apresentado, destacando as atividades relacionadas aos aprendizes.

Características Dinâmicas do Curso

O curso deve fornecer, por meio de uma unidade de estudo, o conhecimento ou habilidades necessárias para adquirir a competência em um assunto ou o desempenho de um grupo de tarefas relacionadas (IEEE, 2000). Unidade de estudo é definida como uma unidade de instrução, projetada para ser dominada em um esforço contínuo, que inclui conteúdo de aprendizagem e objetivos de aprendizagem associados, podendo conter uma parte de avaliação do aprendiz. Neste documento, o termo unidade de estudo corresponde ao conceito de lição do glossário definido pelo grupo de trabalho LTSC/IEEE (IEEE, 2000). Ela é formada por um ou mais tópicos, que é o menor elemento de um curso que pode ser atribuído para um aprendiz, significando o mesmo que unidade atribuível no glossário LTSC. Cada tópico pode estar associado a avaliações formativas, que é um tipo de avaliação com perguntas e feedback imediato para as respostas, ensinando conforme corrige. Este tipo de avaliação, também conhecido como auto-avaliação, consiste em um sistema de controle de qualidade pelo qual pode ser verificada, em certa etapa do processo ensino-aprendizagem, a efetividade ou não do processo; se o processo não tiver sido efetivo, determina-se quais mudanças precisam ser feitas para assegurar sua efetividade antes que seja tarde, caracterizando um processo sistemático e contínuo (Tarouco, 1999).

Antes de realizar o curso, o aprendiz pode ser submetido a uma avaliação diagnóstica, cuja finalidade é posicionar o aprendiz adequadamente logo no início da instrução. Ela possibilita a localização do ponto de partida mais adequado para cada aprendiz. Com este propósito, o diagnóstico pode assumir várias formas: primeiro, pode procurar determinar se um aprendiz possui certos comportamentos ou habilidades considerados como pré-requisitos para a realização dos objetivos do curso; em segundo lugar, pode tentar estabelecer se o aprendiz já dominou os objetivos de uma determinada unidade ou curso, autorizando-o ou não a se inscrever em um programa mais avançado; finalmente, pode ter como meta classificar estudantes segundo certas características, tais como interesse, personalidade, background, atitudes, habilidades e histórico educacional anterior (Bloom et al., 1971).

A avaliação interna à unidade de estudo é formativa e o sistema emitirá eventos internos que permitirão controlar, por exemplo, o número de acertos e erros por parte de um aprendiz e, por parte do instrutor, a tomada de decisões sobre quais partes do curso o aprendiz precisa ver ou rever, bem como definir a aprovação do aprendiz em módulos específicos e a liberação do mesmo para prosseguir conforme o fluxo de módulos programados (Leiva et al., 1999).

Ao consultar um item bibliográfico ou webliográfico, que foi referenciado na unidade de estudo, o sistema armazena o contexto do aprendiz no curso; assim, é possível que ele retorne onde parou, quando terminar a consulta. Esta semântica é representada graficamente (ver Figura 2.18) na forma de uma ligação bidirecional.

Concluindo o último tópico do curso, o aprendiz faz uma avaliação somativa, caso esteja considerado apto para ela, segundo critérios do instrutor. Avaliação somativa é um tipo de avaliação com perguntas e atribuição de pontuação, para fins de avaliação do aprendiz.

A seguir, é descrita brevemente a arquitetura do WIS proposto nesta seção.

Arquitetura de um WIS para Avaliação

A Figura 2.17 apresenta os principais atores envolvidos e módulos para o WIS proposto.

Figura 2.17: Arquitetura do WIS proposto.
\includegraphics[width=.8\textwidth]{ArqtWIS.eps}

Os hiperdocumentos do curso, armazenados na base de dados do WIS, podem ser consultados e editados por meio de navegadores WWW instalados em clientes distribuídos.

O autor, que pode ou não ser o instrutor, cria a estrutura básica do curso, composta pelos seguintes itens: um hiperdocumento, no mínimo, para cada atributo do curso; um ou mais tópicos; e hiperdocumentos opcionais para as avaliações (diagnóstica, formativa e final). Na Figura 2.17, a linha orientada do autor para o navegador indica que o autor realizará mais armazenamento do que consulta às informações do curso.

Após a disponibilização do curso, o material é apresentado aos aprendizes de forma controlada. Esta entrega pode ser personalizada conforme o desempenho do aprendiz ou programada, quando são considerados, por exemplo, tempos pré-determinados para cada tópico ou avaliação (Leiva et al., 1999). O aprendiz pode fazer anotações privadas e públicas sobre cada hiperdocumento do curso. Na Figura 2.17, a linha dupla do aprendiz para o navegador indica que o aprendiz provavelmente interagirá mais freqüentemente com o curso do que os demais participantes; além disso, esta linha é bidirecional porque espera-se que o aprendiz não só consulte passivamente o material, mas também participe ativamente respondendo às avaliações e escrevendo anotações.

Após cada avaliação realizada pelo aprendiz, seus resultados estão disponíveis ao instrutor; deste modo, ele pode verificar o desempenho do aprendiz, bem como reconsiderar o conteúdo e o fluxo dos tópicos e das avaliações. Além das respostas e anotações sobre as avaliações, que foram preparadas pelos aprendizes, o instrutor receberá vários tipos de relatórios, classificadas por aprendiz, turma, questão e documento. No relatório individual sobre o aprendiz, são indicados para cada aprendiz o momento do acesso a cada documento interno (bibliografia, tópico e avaliação, dentre outros) e externo (da webliografia) do curso, na seqüência em que eles foram consultados; no caso das avaliações, é exibido o número de vezes que o aprendiz fez cada avaliação, bem como a nota obtida em cada um destes acessos; se ele registrou alguma anotação, consta o texto desta anotação, a referência ao documento anotado e o momento da anotação. No relatório por turma, fica registrado o número de anotações incluídas no WIS pelo aprendiz que foram consultadas pelos seus colegas, bem como a maior e a menor notas, a nota média e o desvio padrão da turma em cada avaliação. No relatório por questão, é revelado quantos aprendizes conseguiram respondê-la corretamente, no caso de questões corrigidas automaticamente; quando a questão for dissertativa, exibe-se o texto completo redigido pelo aprendiz e os eventuais comentários do instrutor. No relatório com estatísticas por documento, é apresentada a quantidade de acessos a cada documento interno ou externo, em termos absolutos e percentuais.

Modelo de um Curso

A Figura 2.18 mostra o modelo de um curso oferecido no WIS proposto.

Figura 2.18: Modelo de um Curso Oferecido via WIS.
\includegraphics[width=.9\textwidth]{ModlCurso.eps}

Quando não existe pelo menos uma ligação de entrada ou de saída para um nó, significa que o nó pode ser mostrado em qualquer ordem; entretanto, a existência de uma ligação de entrada naquele nó, como a ligação Faz Avaliação que entra no nó Avaliação \(\mathbf{n}\), implica que este nó só pode ser executado após o nó anterior (neste exemplo, o nó anterior é Tópico \(\mathbf{n}\)). Um nó dividido por linhas tracejadas é um elemento composto por outros nós; por exemplo, o nó Objetivos é formado pelos nós Gerais, Específicos, Ensino e Aprendizagem, que representam vários tipos de objetivos possíveis para um curso. Uma palavra ou expressão entre colchetes simboliza uma condição necessária para que a ligação ocorra, o que ocorre na ligação Faz Avaliação Final [apto]; nesta situação, o aprendiz só realiza a avaliação final se for considerado apto para ela, segundo requisitos especificados pelo instrutor do curso.

WISs representam novas oportunidades que a WWW oferece para sistemas de informação. Mais oportunidades surgirão conforme as tecnologias forem amadurecendo e os padrões forem evoluindo. Ao mesmo tempo, WISs continuam enfrentando os mesmos tópicos e desafios antigos de sistemas de informação tradicionais, com distorções provenientes das tecnologias WWW e da super-conectividade. Contudo, é possível que as organizações e os desenvolvedores adaptem seu conhecimento existente sobre projeto de sistemas e sobre valores estratégicos para esta nova área, garantindo que as pessoas construirão WISs robustos e utilizarão todo o potencial deles (Isakowitz et al., 1998a).

O modelo de curso proposto envolve vários módulos (como controle dos cursos, aprendizes, notas, aprovações, turmas, instrutores e autores) definindo, portanto, um sistema de informação baseado na WWW que inclui ferramentas de autoria e apresentação.


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Ivan Luiz Marques Ricarte 2001-03-16