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Interatividade

O termo interatividade resume, de certa forma, tudo o que de diferente é atribuído às novas tecnologias da informação e da comunicação por diferentes autores em função das suas posições teóricas. Na tentativa talvez de justificar o valor heurístico desse termo, vários autores discutem a existência ou não de diferenças semânticas e técnicas entre os termos interatividade e interação. Sem negar as razões plausíveis que os autores podem ter para fazer essa discussão, talvez maiores que as próprias implicações práticas, pode ser que ela não seja tão fundamental pois, afinal de contas, o valor do termo depende da sua capacidade de sintetizar (uma das funções dos conceitos) as qualidades atribuídas aos novos meios de comunicação, algumas das quais são também reconhecidas como qualidades de outros meios menos novos. Sem especificar essas qualidades corre-se o risco de usar o mesmo termo para designar coisas diferentes a partir de posições teóricas diferentes.

Se a interação define, entre outras coisas, a existência de reciprocidade das ações de vários agentes físicos ou biológicos (dentre estes os humanos), a interatividade traduz, mais particularmente, uma qualidade técnica das chamadas máquinas ``inteligentes''; qualidade técnica que investe essas máquinas de um conjunto de propriedades específicas de natureza dinâmica, pois elas se alteram com a própria evolução técnica. No seu livro ``Cibercultura'', Pierre Lévy (1997) aborda a interatividade como um problema, justificando isso porque o termo é usado muitas vezes a torto e a direito sem saber de que se trata. Isso só comprovaria o que já sabemos há muito tempo: ou que as pessoas dissociam, muitas vezes, a palavra (signo) da coisa ou que usam a mesma palavra para significar aspectos diferentes que não são devidamente explicitados. O problema não está no uso do mesmo termo, mas em não explicitar o que se entende por ele.

Utilizando um quadro de dupla entrada (relação com a mensagem/dispositivo de comunicação), Pierre Lévy fala de diferentes tipos de interatividade que vão, respectivamente, da mensagem linear -- através de dispositivos que variam desde a imprensa, rádio, TV e cinema até as conferências eletrônicas -- até a mensagem participativa -- através de dispositivos que variam dos videogames com um só participante até a comunicação em mundos virtuais envolvendo negociações contínuas. Sem considerar que o autor resolveu totalmente o problema, fica claro, porém, que o que caracteriza a interatividade é a possibilidade -- crescente com a evolução dos dispositivos técnicos -- de transformar os envolvidos na comunicação, ao mesmo tempo, em emissores e receptores da mensagem. Em outros termos, muda o conceito de comunicação. Se essa mudança é devida, em parte, à evolução técnica que possibilita cada vez mais a participação dos agentes, o direcionamento da evolução técnica tem também a ver com os novos conceitos de comunicação e de agente da comunicação. Ao tornar possível o que antes era só desejável -- refirimo-nos, exclusivamente, à relação, no conceito clássico da comunicação, entre o canal ou veículo de transmissão e a mensagem -- a tecnologia viabilizava um outro conceito de comunicação; mas não seria totalmente correto afirmar que essa mudança foi produzida, unicamente ou fundamentalmente, pela evolução tecnológica, uma vez que, mesmo usando os ``novíssimos'' avanços tecnológicos, ainda existem cientistas que trabalham com o antigo conceito de comunicação.

Pode-se dizer então que a grande contribuição das novas tecnologias de informática e comunicação é que, ao mesmo tempo que elas rompem as barreiras espaço-temporais possibilitando a comunicação à distância e em tempo real de múltiplos sujeitos geograficamente dispersos, fornecem estruturas técnicas para a comunicação e o acesso à informação em rede. A possibilidade de trabalho em rede, tanto como estrutura de acesso e tratamento da informação quanto como estrutura de intercâmbio e de atividade colaborativa, constitui, sem dúvida alguma, a grande qualidade dessas tecnologias. Se as estruturas em rede, de complexidades variadas, é o fato novo das tecnologias de informática, a atividade em rede é algo tão antigo quanto o homem, apenas cerceado pelas condições espaço-temporais e pelas limitações dos dispositivos técnicos disponíveis, os quais no último século evoluiram e continuam evoluindo de forma fantástica. As estruturas técnicas de rede permitem implementar formas novas e mais complexas de interação social, fazendo emergir a possibilidade da troca imediata no ciberespaço. Dessa forma, os indivíduos tornam-se, ao mesmo tempo, receptores e emissores, produtores e consumidores de mensagens. A comunicação deixa, definitivamente, de ser linear e de mão única, para tornar-se poliglota, polissêmica e policêntrica.

Embora as novas tecnologias de informática não tenham surgido com preocupações educativas, o impacto econômico e social que elas vêm provocando acabou associando-as à educação por duas vias: pela revolução que a informatização da produção industrial provocou no mercado de trabalho, desencadeando novas qualidades e competências dos empregados, e, como consequência, pela importância que a educação passou a ter na nova sociedade da informatização. Isso abriu caminho ao grande debate a respeito das relações entre novas tecnologias e educação, debate que se depara, desde o seu início, com posturas divergentes em relação ao papel dessas tecnologias no campo da educação. Uma coisa parece ficar cada vez mais claro: a tecnologia em si não basta, assim como a educação já não pode ser pensada sem levar em conta o impacto tecnológico.

O processo educacional, presencial ou mediado por essas novas tecnologias, passa a adquirir dimensões que, se não são totalmente novas podem agora ser profundamente inovadoras. As relações educativas tornam-se pluridirecionadas e dinâmicas, possibilitando a todos os interessados interagir no próprio processo, rompendo com velhos modelos pedagógicos que só conhecem a comunicação unilateral que privilegia o emissor, ou seja, o professor onisciente e onipotente desconsiderando as peculiaridades do receptor, ou seja, do aluno. O velho receptor deixa de ser aquele que deve apenas aceitar ou não a mensagem proposta pelo professor para tornar-se sujeito da própria educação numa comunidade educacional interativa.

Remetemos o leitor ao texto de Pino (2000).


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Ivan Luiz Marques Ricarte 2001-03-16