O Sistema Elétrico Brasileiro (Planejamento)

Planejamento do Sistema Elétrico

De maneira geral, o planejamento do setor elétrico tem as seguintes fases:

  • Planejamento da Expansão: Etapa na qual procura-se analisar as diferentes estratégias da expansão do sistema elétrico em relação à geração e transmissão, estabelecendo-se um programa de construção e instalação de novas unidades de geração, transmissão e controle do sistema e de inventário das bacias hidrográficas; são definidas as diretrizes que constituem a base dos estudos de médio e curto prazos, tais como reserva de potência, capacidade de geração de ponta.
  • Planejamento de Operação: Com horizontes de até cinco anos, o objetivo é estabelecer o comportamento do sistema para um horizonte de operação de até alguns anos à frente. Nesta etapa deve-se promover o aproveitamento racional dos recursos, garantindo-se a qualidade e segurança no atendimento à demanda e respeito às restrições operativas do sistema hidrotérmico.

Abordaremos aqui algumas características do planejamento da operação, etapa que engloba o pré-despacho, foco de nosso trabalho.

Planejamento da Operação

O planejamento da operação é um processo bastante complexo, devido à dimensão dos sistemas reais, ao número elevado de variáveis de decisão, aos recursos limitados e às inumeras incertezas. Por essa razão, ele é dividido em vários estágios para melhor compreensão do problema, considerando em cada um deles um horizonte de tempo diferente, bem como diferentes objetivos e modelos. Nessas diferentes etapas, as empresas do setor elétrico são coordenadas para obter a utilização dos diferentes recursos do sistema de uma forma econômica e garantir o atendimento do mercado com qualidade. A figura abaixo mostra uma típica divisão do planejamento da operação e suas principais funções.

Etapas de um processo de planejamento de operação

Os planejamentos de longo e médio prazo visam otimizar os fluxos anuais naturais dos cursos de água do sistema, enquanto o de curto prazo otimiza a operação do sistema. O planejamento de curto prazo, também denominado pré-despacho, consiste em fornecer, para um período de tempo especificado (geralmente o dia ou a semana seguinte) um plano de operação do sistema confiável, na forma de cronogramas de previsões de carregamentos nas unidades em intervalos determinados (seu estado de operação -- ligado ou desligado -- e seus níveis de produção de energia).

Podemos agrupar algumas etapas do planejamento da operação em planejamento energético e elétrico da operação. O planejamento energético engloba as etapas de longo e médio prazo é nesta fase onde os aspectos hidráulicos e estocásticos são analisados com maior relevância. O planejamento elétrico da operação é feito na etapa de curto prazo, na qual as restrições advindas da operação elétrica são analisadas com maior relevância tais como as perdas e o congestionamento do sistema de transmissão.

No que diz respeito à modelagem que é utilizada para prever o comportamento do sistema de energia elétrica, os planejamentos de longo e médio prazo utilizam uma representação simplificada do sistema. No planejamento a médio prazo, metas energéticas para a geração devem ser impostas para atender a demanda; no entanto, as afluências das fontes hidráulicas não são constantes. O sistema hidrotérmico brasileiro possui características que o diferenciam da maioria dos sistemas existentes no mundo. As principais características que determinam a particularidade do setor são encontradas na grande extensão em área de suas bacias hidrográficas, o regime de vazões plurianual, sujeito a períodos de estiagem (que pode afetar as previsões a médio prazo) e a grande participação das fontes hidrelétricas na geração elétrica nacional (cerca de 92\% da capacidade nominal instalada do país). O potencial hidrelétrico brasileiro é estimado em 260 GW, dos quais apenas cerca de 68 GW estão em operação. Portanto, cerca de 74\% deste potencial ainda permanece inexplorado. Especialistas acreditam que as fontes hidráulicas continuarão a desempenhar um papel importante na crescente demanda energética nas próximas décadas.

Para o planejamento a médio prazo, no entanto, não existe uma real necessidade da utilização de dados geo-referenciados, pois suas principais restrições estão relacionadas aos níveis de geração das usinas.

Como o planejamento de curto prazo serve a uma diretriz operacional, ele requer uma representação da operação do sistema mais detalhada, na qual as usinas hidrelétricas e termoelétricas são representadas no nível das turbinas/geradores e todas as restrições relevantes do sistema de geração devem ser levadas em conta. Um fator agravante é que a maioria das unidades de geração hidrelétrica está situada longe dos principais centros de consumo (veja exemplo na figura abaixo). Conseqüentemente, é necessária uma extensa rede de transmissão que possa interligar os mais distantes pontos de geração e consumos de energia. Com isso, ao interligarem usinas situadas em diferentes bacias, as linhas de transmissão permitem compensar a diversidade hidrológica de várias regiões do país. O Operador Nacional do Sistema Elétrico -- ONS, responsável pela operação do sistema, justifica sua atuação no setor elétrico afirmando que somente a operação interligada e coordenada do sistema obtém o aproveitamento racional dos recursos naturais, sendo que o ganho em relação à operação descentralizada é de 20%. Assim, um planejamento da operação a curto prazo (pré-despacho) adequado do sistema de transmissão contribui para aproveitar os diferentes recursos de geração presentes nas distintas partes do sistema, auxiliando na otimização dos recursos hidrelétricos. Neste nível de planejamento, os requisitos de transmissão do sistema (o fluxo de potência máximo) também devem ser considerados. Os dados geo-referenciados desempenham papel fundamental no pré-despacho, pois as restrições operacionais do sistema ligadas à transmissão dependem fortemente de sua localização geográfica.

Itaipu, exemplo brasileiro da grande distância entre as fontes de geração hidrelétrica e os centros de consumo

Outro fator que dificulta o planejamento da operação são as incertezas associadas com o mercado (que representa a carga do sistema). Pelo fato de apresentar não linearidades na função de produção das usinas hidrelétricas e na representação da rede de transmissão, o problema de planejamento da operação é um problema de otimização dinâmico estocástico, misto e não linear, com grande número de entradas (previsões de demanda, restrições operacionais desiguais e restrições da rede elétrica). No entanto, para a maioria dos intervalos de despacho, apenas um pequeno subconjunto destas entradas é realmente necessária. Geralmente, o conhecimento da localização geográfica das sobrecargas e as experiências de despacho anteriores podem auxiliar o operador a determinar apropriadamente as restrições que asseguram a convergência do problema de otimização em programas de despacho apropriados após um certo número de iterações.