Reconhecida a inegável contribuição da tecnologia para otimizar os resultados da aprendizagem, cabe lembrar que esta não pode prescindir de uma reflexão rigorosa acerca das concepções de educação, homem, mundo que estão subjacentes. Assim, os educadores, ao incorporarem às suas práticas docentes os recursos tecnológicos, devem não perder de vista a questão de qualidade formal e política apontada por Demo. Recupera-se desta forma a sensibilidade do educador para processar uma leitura mais crítica dos recursos de modo a não convertê-los em um fim em si mesmo, manejados de modo asséptico. O uso da máquina sempre estará condicionado às claras opções (às vezes indesculpáveis omissões) do Homem. Defendemos que paralelamente ao célere avanço tecnocientífico, deve ocorrer uma revitalização das concepções educacionais, permitindo o bom uso da tecnologia em favor de um projeto de educação mais emancipador e ético. Deriva daí a necessidade de distinguir o ``novo'' e a ``novidade'' nos processos de ensino que buscam apoio na tecnologia para ensinar aquilo que merece ser ensinado, despertando desta forma a criticidade dos professores na escolha de seu instrumental pedagógico. A verdadeira inovação portanto deve superar os limites já sobejamente denunciados na educação presencial orientada pela tendência tradicional.
Isto posto, destacamos que um dos maiores desafios é articular as inúmeras vantagens criadas pela revolução tecnológica e (re)criar metodologias de ensino e de avaliação que efetivamente contenham alguma possibilidade de mudança qualitativa.
Um ambiente colaborativo de aprendizagem exige uma avaliação colaborativa, que se desenvolva concomitantemente ao processo de ensino e aprendizagem, iluminando os avanços alcançados e estimulando o preenchimento das lacunas ainda existentes que deverão ser tomadas tanto pelos alunos como pelo professor como indicativos para novas intervenções ainda na situação de aprendizagem (regulação interativa).
Entendemos a avaliação como processo dinamizador da aprendizagem. Com isso, a aprendizagem passa a ser assistida pela avaliação, negando-se a concepção de avaliação que se circunscreve à mera medida de desempenho obtida ao fim do processo.
A avaliação pode e deve ser educativa, reintegradora dos estudantes no processo de aprender. Para tal deve considerar aspectos qualitativos do desempenho dos alunos e estimular sua produção e autonomia intelectuais. O papel do professor deve ser ativo, mediatizando a aproximação que os alunos fazem em relação ao conhecimento já produzido e a produzir. Defende-se uma avaliação centrada mais na pedagogia das perguntas do que na pedagogia das respostas, que são cerceadoras do pensamento criativo e crítico. Há que se considerar que o uso de tecnologias modernas não pode conviver com recursos pedagógicos já superados e que desaceleram o surgimento de potencialidades cognitivas nos estudantes mais contemporâneas. Assim, o uso de recursos tecnológicos está a exigir práticas avaliativas igualmente modernas, que saibam explorar positivamente as diferenças existentes no conjunto dos alunos, ao invés de buscar obsessivamente padronizar condutas e respostas prontas.
Reconhecendo que o processo de construção e produção do conhecimento é social, a tecnologia pode ensejar espaços de trabalho coletivo, num esforço de aprender a vivenciar a chamada ``comunidade de aprendizagem'', quando o encontro com os argumentos do(s) outro(s) enriquecem e estimulam a pensar questões antigas sob novos ângulos.
A complexidade dos problemas contemporâneos exige, para transformar informações em conhecimentos e competências, a capacidade da interlocução em tempo real e/ou virtual; nos espaços síncronos e assíncronos; do indivíduo com o grupo, em busca da verdade com toda a provisoriedade que a caracteriza. Exige ainda que a avaliação seja finalmente incorporada ao processo de ensino e a tecnologia pode ser recurso decisivo e includente dos alunos, desde que manejada por educadores conscientes da centralidade da avaliação nos processos de inovação educacional.
Como recursos de avaliação, uma vez explicitadas as novas bases conceituais que deverão nortear o Projeto SAPIENS, podemos citar, entre outros:
Independentemente dessas e outras tantas situações a serem criadas, é necessário definir a cada módulo um conjunto de condições mínimas necessárias a serem conquistadas para avançar no programa. Essas condições devem ser previamente explicitadas no programa do curso para que os alunos tenham ciência prévia dessas condições. O professor deve interferir precocemente corrigindo eventuais rotas de fracasso. Para tal, parece importante a associação de situações síncronas e assíncronas para que a interatividade comunicacional possa exercer efeito positivo no processo.
O desenvolvimento de ferramentas que propiciem o registro acumulado das atividades do aluno é desejável, propiciando um acompanhamento sistemático. No entanto, tal acompanhamento não deve ser realizado numa perspectiva controladora, e neste sentido a explicitação do referencial teórico da avaliação que sustenta a interpretação dos resultados de aprendizagem faz nítida diferença. Como se depreende, praticar a avaliação em ambiente colaborativo de aprendizagem requer uma certa capacidade de desaprender, desconstruir uma cultura avaliativa centrada na ética da individualidade, na lógica do produto e viciada na visão dogmática da verdade e na vergonha do erro.