Relatores: Christian e Firmiano
Este documento é o resultado das discussões realizadas nos dias 12.03.98 e 17.03.98. O material base está disponível nas referências.
a.
Motivação e Evolução, destacando as principais características de sistemas hipertexto/hipermídia
c. Análise crítica do uso de hipertexto/hipermídia em educação
A motivação para o surgimento da hipermídia vem acompanhada da evolução histórica dos sistemas computacionais. Nesta evolução, são incluídos o uso destes sistemas, o volume de informação gerada e as necessidades de troca e compartilhamento dos dados produzidos.
A primeira questão levantada por Bush [1] é o crescimento no volume de informação, implicando na sua difícil obtenção pelas pessoas interessadas.
Entretanto, o ato de disponibilizar a informação não se traduz diretamente em facilidade de obtenção por todos. A sugestão de Bush [1] é uma melhoria na organização da informação, de modo mais intuitivo, utilizando para tanto a mesma forma de armazenamento por associação do cérebro humano. Segundo Bush [1], seria a idéia das associações das quais nós nos utilizamos para representar uma informação a partir do que já sabemos, construindo assim um conhecimento.Procurando outros fatores motivadores, temos em Halasz [2]  o desenvolvimento de um sistema hipermídia que tinha, segundo os autores, o intento de auxiliar o trabalho de manipulação de idéias. Vemos então, que as necessidades dos trabalhos criativos, se destacando entre estes os colaborativos, tiveram também importante papel motivador ao desenvolvimento da tecnologia hipermídia. Isso parece claro, pois o trabalho colaborativo, requer, além do suporte à atividade criativa, esforço extra na manipulação e representação das idéias provenientes da mesma.
Em Bush [1] temos a proposição de um formato de documento hipermídia denominado Memex. O mecanismo de funcionamento do formato proposto era de natureza física (analógica) e centralizada. Relacionando este com o conceito de hipermídia, temos com Ted Nelson-1965 [4], o surgimento da conceituação do hipertexto. Continuando, vemos em Halasz[2] a descrição de um sistema caracterizado como de segunda geração, sendo destinado a obtenção de documentos de mídias de natureza distintas, denominado Notecards. Este sistema é baseado em informações digitais, com a característica de ser proprietário, fato que lhe impõe restrições, especialmente no que diz respeito à interação com outros ambientes já existentes. Mais recentemente vem o padrão HyTime [3], o qual propõe uma forma padronizada de relação entre objetos de dados, estes podendo ser definidos em notações diferentes.
A evolução da tecnologia hipermídia veio acompanhada e influenciada pela descentralização tanto no armazenamento de dados como no processamento dos mesmos. A referida mudança teve reflexos no formato dos documentos e na arquitetura dos sistemas hipermídia a serem desenvolvidos.
CaracterizaçãoA definição dos conceitos de hipertexto e multimídia são necessárias à caracterização de um sistema hipermídia. Vamos então às definições.
Hipertexto: como citado anteriomente na evolução histórica, em Ted Nelson [4], este conceito caracteriza ligações arbitrárias entre documentos, definindo uma estrutura associativa definida pelo autor do material.
Multimídia: é o termo utilizado para descrever a utilização de diversos tipos de mídias para representação, registro e uso da informação.
Passando agora ao sistema hipermídia. Relacionamos abaixo as sugestões de Halasz[2] para caracterização de um sistema deste tipo[1].
Este tópico é baseado nos itens sugeridos por Halasz[2] como características desejáveis para um sistema hipermídia.
Busca e Consulta.
Observamos que esta atividade na WWW
é ainda ineficiente. Entendemos que no atual estado de
organização dos documentos não há
solução para o problema de recuperação de
informação. Tivemos algumas sugestões, como
restruturação dos documentos espalhados pela WWW. Esta medida
colocaria alguma ordem relacional entre estes documentos, o que seria uma
tentativa de facilitar a busca. Outra idéia seria a
padronização dos sites de busca e assim uniformizar a
interface de consulta. Também no que diz respeito aos sites
de busca e seus mecanismos, seria interessante uma
diferenciação para tipos de dados distintos. (e.g.: imagens,
som, objetos, arquivos texto). Concluímos que os problemas em
encontrar informação na WWW são decorrentes da
própria filosofia de funcionamento da mesma, algo deveras relevante
para ser contornado.
Composição dos Nós
As sugestões
como a idéia de links que referenciam outros links ou
listas de links já está disponível na linguagem
base da WWW, o HTML(Hipertext Markup Language). O que ocorre é que
nem todos os Browsers, leitores deste tipo de documento, suportam
esta funcionalidade. Outra funcionalidade são os links
reversos, já suportados pelos principais Browsers. A
idéia de Halasz[2] de agregar
informação semântica e funcional aos nós da WWW,
que seriam os links do hipertexto, esbarra a nosso ver na falta de
uma tecnologia apropriada. A referida idéia sugere uma
aproximação com o modelo de classes e objetos. A tecnologia
para adoção deste modelo deverá, entretanto, tratar de
questões ainda não resolvidas, como segurança,
distribuição de recursos, largura de banda das redes e
sobrecarga excessiva da linguagem HTML. Observamos ainda a falta de
diferenciação nos links, significando que fica
difícil saber o que é fornecido através de um
link, o que mais uma vez justificaria a necessidade de
informação semântica associada.
Estruturas Virtuais
As estruturas virtuais, além de
permitir a mesma noção de visão em bancos de dados,
permitiriam atacar o problema de links perdidos observados na
WWW. É o caso de documentos que são retirados da WWW, mesmo
que ainda referenciados por outros. Em vista a minimizar o problema,
existem mecanismos de busca automática em determinados sites
que vasculham os documentos a procura de links não mais
válidos. Outra idéia seria a possibilidade do hipertexto
adquirir diferentes significados, referenciar diferentes documentos de
acordo com fatores externos ao documento. Seriam exemplos destes fatores, o
histórico do percurso realizado pelo usuário,
informações sobre o usuário (perfil, grau de
permissão, interesse, tipo de máquina e browser, etc),
estado de tráfego na rede.
Computação na rede hipermídia
Na WWW
não temos um mecanismo que permita computação nos
nós da rede. Denotando-se assim uma passividade na
interação do usuário com os documentos
hipermídia. A tecnologia de Applets Java não veio a suprir de
maneira satisfatória a falta de interatividade. É
possível através desta última realizar processamentos
na máquina do usuário, mas continua sendo a mesma
idéia de recepção de código, só que
neste caso é um código executável. A
computação na rede hipermídia estaria mais
próxima da idéia de agentes que realizam processamentos em
nós remotos da WWW, podendo ou não retornar aos seus
originadores.
Controle de versão
Não há suporte
completo na linguagem HTML ao controle de versões. Seria
interessante para um acompanhamento de discussões, fundamental ao
suporte a um trabalho colaborativo. As conclusões foram na
direção da decisão em se carregar a linguagem da WWW
com um recurso desse tipo e no grau que seria necessário. Talvez um
controle de versão já satisfatório poderia ser
realizado pelo próprio autor dos documentos. Levantou-se a
questão das diferenças de interesse entre o produtor e o
consumidor do documento, no que tange as funcionalidades e necessidades
deste recurso.
Suporte a Trabalho Colaborativo
O atendimento a esta
sugestão de Halasz[2] é dependente do
atendimento dos itens anteriores a este. As tecnologias que compreendem a
WWW não suprem as necessidades de infra-estrutura requeridas por um
trabalho cooperativo. Após o atendimento destes itens, viriam ainda
questões referentes ao próprio trabalho colaborativo, como
controle de concorrência, notificação de mudança
e controle de versão. A estrutura da WWW tem facilitadores e
dificultadores. O fato de ser aberta e distribuída permite a
integração de diferentes e já existentes tecnologias
de suporte ao trabalho colaborativo. Porém fatores
intrínsicos à plataforma sobre a qual a WWW está
montada (Internet-TCP/IP) e o formato padronizado de troca de
documentos(HTML) aparecem como limitantes a muitos requisitos para suporte
completo a trabalho colaborativo.
Extensão e customização
A exemplo das
estruturas virtuais discutidas anteriormente, não há suporte
na WWW a mecanismos que permitam redefinir ou estender certos conceitos ou
estruturas, como é o caso dos links. Estes são sempre
referências a documentos quaisquer ou a outros links,
não nos é permitido agregar funcionalidades, redefinir
conceitos. A flexibilidade requerida seria a mesma proporcionada pelos
paradigmas de orientação a objetos. Esta extensibilidade e
customização implica em complexidade à linguagem da
WWW, bem como nos tratadores desta linguagem. Outra questão seria o
quão sobrecarregado pode ficar, e também quais
incompatibilidades podem surgir com tecnologias que já pertencem
à WWW.
A aplicação das referidas tecnologias no processo de aprendizado traz questões a serem resolvidas tanto na modelamento do sistema, como na alteração parcial de metodologias de ensino.
Partindo de um motivador ao desenvolvimento do hipertexto/hipermídia, temos que o modelamento e construção do conhecimento escrito é mais flexível. Pelo mecanismo de hipertexto, permitimos que leitor atinja determinado ponto do conteúdo por caminhos diversos, essa é uma liberdade que se reflete diretamente em maior intuitividade. Por outro lado, a referida liberdade também impõe ao autor do material e ao instrutor a definição dos percursos que são válidos para atingir todo o conhecimento esperado. Pois sem uma orientação, conteúdos poderão ser perdidos ou ficar escondidos no mar de conexões entre documentos.
A facilidade de acesso à informação é um ponto diferencial em relação a qualquer outra infra-estrutura educacional. Com o uso da WWW são abertas as portas para repositórios de dados (e.g. museus e bibliotecas) que estão a quilômetros de distância. O ganho está tanto na facilidade de obtenção de dados já disponíveis, como também no aumento do universo de dados dispon&icute;veis aos agentes de ensino. Um problema surge para o caso de ser necessária a restrição a repositórios que não sejam de interesse do trabalho desenvolvido.
A interação entre as partes envolvidas ganha mais um meio de comunicação, que é a própria plataforma da WWW, a Internet. Por outro lado, também devido a esta plataforma, aparecem restrições para o tráfego multimídia, como largura de banda, ausência de garantia de qualidade de serviço e falta de confiabilidade na transmissão de dados. Exemplificando um novo meio de comunicação, o e-mail, temos uma nova forma de interação entre o aluno e o professor, além da viabilização do contato, antes quase inexistente, entre estes pares com o autor do material. Essa nova possibilidade de comunicação assíncrona, porém veloz (incomparável com o correio padrão), fornece grandes ganhos ao estudo fora do momento da aula. Discussões podem ser continuadas após o término da aula e mantidas indeterminadamente, dúvidas podem ser registradas ao professor ou ao grupo em tempo de estudo, quer dizer, imediatamente após terem sido geradas. Acrescentamos ainda os benefícios para turmas muito numerosas, nas quais nem todos têm chance para interagir com o professor. Tudo isso está integrado com o uso do hipertexto/hipermídia.
Sistema aberto da WWW. Um problema enfrentado por sistemas proprietários é a dificuldade de compatibilidade entre os recursos utilizados pelos agentes de ensino, alunos, professores e autores. A padronização tão necessária é fornecida pelas tecnologias dominantes na WWW.
Ganho na manipulação e produção do material de ensino. O acréscimo imposto pelo aprendizado de um nova técnica, bem como a manutenção da infra-estrutura criada é compensada pela versatilidade na manipulação do material e utilização de novos recursos tecnológicos nos mesmo. Observamos que o uso da tecnologia e infraestrutura discutida atende ao deslocamento natural de importância nas atividades educacionais, que se traduz na perda de importância da transmissão da informação para a maior importância nos mecanismos que permitem a construção de um conhecimento a partir desta informação.
Acréscimo de complexidade ao método e à infra-estrutura. Esse é um ponto a ser levado em consideração quando do uso da tecnologia de hipertexto/hipermídia, sendo que estas requerem novos atores inexistentes no contexto educacional, como por exemplo o engenheiro de tecnoligias educacionais, termo traduzido do inglês,Educational Tecnology Ingineer. Encontram-se neste ponto problemas de aplicação adequada dos recursos e o custo/benefício no emprego dos mesmos.
[1] Vannevar Bush, "As we may think," The Atlantic Monthly, July 1945.
[2] Frank G. Halasz, "Reflections on NoteCards: Seven issues for the next generation of hypermedia systems," Communications of the ACM 31(7), pp.836-852, July 1988.
[3] Steven R. Newcomb, Neill A. Kipp, Victoria T. Newcomb, "The "HyTime" Hypermedia/Time-based Document Structuring Language," Communications of the ACM 34(11), pp.67-83, November 1991.
[4] Conklin, J.: Hypertext: An Introduction and Survey, Computer IEEE 2(9), pp. 17-41, September 1997.
[5] De Bra, P.M.E.: The Architecture of hypertext systems, Eindhoven University of Technology, 1997.
[6] Demmer, C.: What is hypertext?, Northwestern University's journal for New Media Authoring, Vol.3, 1995.