Hipermedia: Tema para discussão

Relatório final de atividades - grupo F1

IA368 - Tópicos em Engenharia de Computação V / Profs. Drs. Ricarte & Pini / DCA / FEEC / UNICAMP

Caracterização dos sistemas de Hipermedia

Ao longo de séculos de trabalho, os povos reuniram uma série de conhecimentos que hoje norteiam todo o desenvolvimento da humanidade, em todas as áreas. Sejam recentes as descobertas no campo das ciências humanas, das exatas ou das biológicas, todas elas se basearam em informações conseguidas a duras penas por nossos antepassados, que se serviram de experiências, de observações da natureza... enfim, pela incansável curiosidade que caracteriza o gênero humano. Com isso, estruturou-se toda uma filosofia de pesquisa e busca de respostas, num sistema lógico que determinou o método científico usado até hoje.

Com o passar dos anos, atingiu-se um nível extraordinário de acúmulo de experiências, que trouxe consigo um problema inerente à toda grande massa de informações de gamas diferentes: a dificuldade em organizá-las para posterior referência. A partir do final do século XVIII e início do século XIX em diante, era comum, em diferentes pontos do mundo, cientistas passarem a vida a pesquisar o mesmo assunto, muitas vezes chegando ao mesmo resultado. Do outro lado do problema, homens de visão trabalharam com afinco e propuseram idéias que, consideradas loucas para a época, foram esquecidas, perdidas, tendo sido, entretanto, comprovadas como verdadeiras mais tarde. No primeiro caso, pecamos pela redundância, e podemos citar como exemplo as pesquisas no campo da eletrostática e de certos ramos da matemática; no segundo, pela omissão e vemos como clássico exemplo as leis de Mendel, na genética.

Como resolver um problema aparentemente tão complexo ?

No século XX, mais especificamente a partir da década de 40, o problema foi retomado com mais vigor e, com o advento dos computadores, de suas capacidades de serem ligados por redes e gerenciarem grandes sistemas de banco de dados, a resposta parecia ter sido encontrada.

Porém, de nada adiantava centralizar todas as informações numa máquina se não havia como processá-las de maneira inteligente. Além do mais, os computadores usados para isso, além de imensos, estavam destinados apenas a centros de pesquisa e universidades.

O "chute" inicial no sentido de se propor uma maneira lógica de se buscar algo num emaranhado de informações foi proposto, em 1945, pelo cientista americano Vannevar Bush em seu artigo "As We May Think". Lá, ele propunha um sistema denominado "memex" no qual um eventual usuário poderia traçar uma rota de assuntos de interesse e segui-los numa sequência ordenada, até chegar à informação desejada. Foi essa idéia, antes de mais nada, uma visão futurista da qual muitos cientistas de hoje se aproveitaram. O "memex" de Bush incorporava a "tecnologia" de reproduzir o pensamento humano, que age por associações e hierarquias, o que tornaria tal busca mais intuitiva e, portanto, fácil de ser executada. Genialmente simples.

De fato, baseados no conceitos de Bush acerca de seu "memex" e dispondo das facilidades que a era da computação moderna proporcionou, surgiu, mais tarde, o conceito de hipermedia.

Podemos definir hipermedia como um sistema de estruturação de informações multimedia com o objetivo de gerenciá-la e representá-la numa rede através de ligações. Esta rede serve como meio para se representar, por sua vez, coleções de idéias afins.

Falamos em informações multimedia. Que vem a ser isso ? Trata-se apenas de uma maneira sofisticada de guardarmos dados, no qual além de informações escritas, podemos dispor de porções de áudio, vídeo ou animações. Em outras palavras, informação que atinge todos os nossos sentidos.

Nessa linha de raciocínio, faz sentido definirmos também um documento hipermedia,que nada mais é do que um documento multimedia a partir do qual podemos referenciar informações afins através do sistema de ligações (ou, no jargão técnico: links) acima mencionado. Mais simples é o hipertexto, que faz uso do mesmo sistema de links para acesso sequencial, embora não seja um documento multimedia (portanto, só contém, no máximo, texto e gráficos). Assim, a partir de um hipertexto sobre determinado assunto, poderemos atingir praticamente tudo que for relacionado a esse assunto, através dos links aí presentes.

Podemos, para fins didáticos, dividir o desenvolvimento dos sistemas de hipermedia em duas gerações distintas:

A primeira, que fazia essencialmente o uso de hipertextos e disponível apenas em mainframes (computadores de grande porte). Nessa época, portanto, era muito restrito o uso de tais sistemas, sendo eles próprios muito limitados.

Na segunda, que remonta as décadas de 80 e início da década de 90 temos, com o surgimento de Workstations e os populares computadores da linha PC, uma maior abrangência de usuários, pois o acesso à informação passou para dentro das casas e dos ambientes de serviço. Com as altas capacidades gráficas e sonoras dessas máquinas, tornou-se possível também o uso de documentos hipermedia, antes impossíveis de serem consultados nos primeiros sistemas.

Uma característica interessante da segunda geração de sistemas hipermedia foi o surgimento de diversos padrões e ferramentas que incorporavam recursos próprios. Podemos citar, como exemplo, o HyTime que vem a ser um padrão de linguagem para representar a estrutura de documentos multimedia, hipermedia e hipertextos, consistindo num conjunto de construções semânticas associadas a convenções sintáticas que permitirá aos documentos hipertexto operarem em seu máximo rendimento. Também temos os Notecards, desenvolvidos pela Xerox Company, que, na realidade, são um ambiente de busca de dados eficiente esbarrando, porém, em certas limitaçöes que, uma vez corrigidas, poderiam muito bem vir a constituir uma terceira geração de sistemas hipermedia.

Tais limitações são:

(1) Não permitir a busca via query na rede;

(2) Não permitir representar e trabalhar com grupos de nós e links como entidades únicas separadas de seus componentes;

(3) Não permitir que as alterações feitas nos nós sejam refletidas dinamicamente;

(4) Não permitir versões da rede (ou atualizações - ver item anterior);

(5) Não suportar trabalho cooperativo;

(6) Não permitir extensibilidade.

(7) Não permitir computabilidade em redes Hipermedia.

Atualmente, dispomos de um novo conceito em hipermedia: a World Wide Web (WWW) que reúne todas as características dos sistemas anteriores e incorporam características que eliminam algumas das limitações discriminadas acima. É um sistema em franca expansão e a ótima resposta dos usuários a esse novo conceito direciona a WWW num caminho promissor em termos de acesso a informações hipermedia.

Desse modo, é óbvia a importância de rede em todos os aspectos da sociedade: cooperação entre grupos, participação de novas descobertas mundiais, lazer, recreação, informação, novidades e, é claro, educação.

Neste último aspecto, cabe ressaltar o uso cada vez maior da WWW em escolas, no sentido de auxiliar o processo de formação de seus alunos. Usando a rede, professores especializados podem encaminhar os estudantes para um assunto de interesse e, depois, deixar que eles próprio descubram seus caminhos. Trata-se de uma inovação no sistema de ensino, pois alia a imagem do professor como instrutor para que o aluno descubra as respostas por si mesmo, apagando um pouco a imagem de personagem que detém toda a verdade. O professor pode ter uma nova visão das coisas e a criança tem estimulada sua capacidade de crítica.

Entretanto, o uso pernicioso da WWW pode ser prejudicial. Certos professores podem ser avessos à nova prática e mesmo os alunos podem desaprovar esse sistema. Lembremos, porém, que a WWW está disponível para auxiliar no ensino. Não deve ser tomada como uma "sucessora" do ensino tradicional e nem permitir acesso a informações não necessárias à formação do estudante. Isso já configura todo um sistema de segurança que não será discutido nesse documento.

A avaliação de alunos também pode ser feita via WWW, pois é possível a criação de softwares educativos que, utilizando-se de recursos da rede, permitam ao professor perceber as inclinações para uma ou outra área do conhecimento.

Concluímos, portanto, ser a WWW a melhor opção como uma ferramenta de apoio importante ao ensino, pois trata-se de um conceito em amadurecimento e padronizado em termos de protocolos e linguagens de acesso e que, bem utilizado, só tem a fornecer benefícios a quem dele se servir.


Comentários dos instrutores.

Last modified: Tue Mar 31 12:03:19 BRA 1998